quarta-feira, 17 de agosto de 2011

BOLAR, INDICIO DA NECESSIDADE DA INICIAÇÃO DO CANDOMBLÉ


"Bolar", ou "cair no santo", é indício da necessidade da iniciação no candomblé.
Geralmente acontece quando a pessoa participa de um "toque" e o orixá a incorpora,
ainda no estado que os adeptos denominam de "bruto" (ainda não assentado ou "feito").
Bolar, aparentemente, é como desmaiar. Mas o orixá está ali. Tomou a cabeça de seu
filho, mesmo contra a vontade deste, cobrando sua iniciação. A "bolação" geralmente
acontece enquanto as pessoas cantam e dançam para os orixás, sendo significativa, para
a identificação do orixá ao qual a pessoa pertence, a divindade para a qual se cantava
quando a pessoa bolou.
Uma vez "bolada" a pessoa é levada para o roncó ou para o quarto de
santo, onde será "acordada". Se depois de bolar uma ou mais vezes, a pessoa decidir se
iniciar, o pai-de-santo consultará o oráculo (jogo de búzios) para determinar que orixá
será feito e como (com que folhas, de que modo, com que quantidades, que animais
serão sacrificados etc.). O pai-de-santo prepara o roncó com a esteira sob a qual serão
depositadas as devidas folhas, as representações materiais do orixá (como quartilhões,
alguidares, ferramentas, pratos etc.) e tudo o mais que será necessário durante o tempo
do recolhimento. Só então é feito o "toque de bolar", quando o abiã (iniciando) será levado
para o barracão onde, ao som dos atabaques, dançará para o seu orixá até que este
incorpore. Bolado, o abiã será recolhido, para só reaparecer em público no dia da festa da
saída
OBRIGAÇÕES OU RENOVAÇÃO DOS VOTOS AO ORIXÁ



Um ano após a  feitura, o nascimento no santo, o Yawo  deve fazer a sua primeira obrigação que tem como significado comemorar esse nascimento e o reforço dos seus votos. Nessa ocasião, são oferecidos: um Bori e um animal de duas patas.

Os votos serão renovados ao completar 3 (três) anos. Serão então oferecidos: um Bori e um animal de quatro patas que seja do fundamento do seu Orixá.

Aos 7 (sete) anos de feitura o Yawo alcança a maior idade no santo tornando-se Egbomin (irmão mais velho) e a partir deste momento está pronto para assumir funções sacerdotais, ou seja tornar-se dono de sua própria casa ou na sua comunidade. Ele já pode assumir o posto de Babalorixá.
Deká ou Obrigação de Sete Anos, é como se intitula este ritual de passagem.

As obrigações dentro do Candomblé não podem ser adiantadas, ou seja, dadas antes do prazo, existe a necessidade de ser respeitado o tempo para que sejam realizadas.

Somente a iniciação não assegura que o Yawo, receba o cargo de Egbomin, ele precisa cumprir todas as etapas descritas anteriormente e mesmo tendo mais de 7 (sete) anos de feito, enquanto não forem realizados os rituais de passagem seguindo a ordem cronológica, ele continuará sendo um Yawo.

O Egbomin recebe durante a cerimónia, elementos de fundamental utilidade para que exerça a função sacerdotal entre eles, os seus búzios e navalha; é justamente o conjunto destes elementos que origina o nome Deká. Além dos elementos, ele passa a ser detentor do fio de grau (Rungebe).

Outras duas obrigações são necessárias a este novo Egbomin, quando forem completados 14 (catorze) e 21 (vinte e um) anos de santo.
FILHOS DE SANTO






 
 O candomblé é uma das religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil. Elechegou com o tráfico de escravos da África Ocidental, mais precisamente, através dos sacerdotes africanos escravizados, entre 1549 e 1888, que, nesta terra, continuaram respeitando os seus Deuses e propagando as suas culturas. De origem totêmica e familiar, a religião foi chamada de anímica porque tem por base a anima (alma) da natureza.

O candomblé (ou culto dos Orixás) não deve ser confundido com certas religiões afro-derivadas, tais como o voodoo haitiano, a santeria cubana e oobeah, que foram cultuadas de forma independente e são desconhecidos no país. Mesmo tendo sido confinado à população de escravos, reprimido pelos colonizadores lusos, proibido pela Igreja Católica (a religião dos portugueses) e criminalizado por Governos (que o consideravam como uma espécie de feitiçaria), o candomblé não somente resistiu, mas tem se expandido, consideravelmente, desde o final da escravatura.

Para sobreviver às perseguições, os adeptos do candomblé passaram a associar os Orixás aos santos católicos, em um processo de sincretismo religioso. Assim sendo, a Rainha dos mares e dos oceanos - Iemanjá - foi associada a Nossa Senhora da Conceição; Iansã - a Deusa dos ventos e das tempestades - a Santa Bárbara; Oxalá - o pai de todos os Orixás - ao Senhor do Bonfim; e assim por diante.

Cerca de dezesseis dos mais de duzentos Orixás existentes na África Ocidental, são cultuados no Brasil, tais como Oxumaré (o Deus do arco-íris);Exu (o mensageiro entre os homens e os Deuses); Iroco (o Deus dos pobres);Logunedé (o Deus dos navegantes); Nanã (a Deusa da fertilidade); Obá (a Deusa dos rios); Ogum (o Deus da guerra); Omolu (o Deus das doenças e da cura); Ossaim (o Deus das folhas e das ervas medicinais); Oxalá (o Deus da criação); Oxóssi (o Deus da caça); Oxum (a Deusa das águas doces e da riqueza); e Xangô (o Deus do fogo, do trovão e da justiça). Por sua vez, cada Orixá possui uma história bastante rica, que engloba os seus gostos, temperamento, cores, comidas, cantigas, rezas, tabus e ligação com a natureza.

Presentemente, o candomblé possui seguidores de todas as classes sociais. Cerca de três milhões de pessoas (1,5% da população total do país) declararam ser aquela a sua religião. E, no tocante aos templos, apenas na cidade de Salvador, constam dois mil duzentos e trinta terreiros, registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros (Fenatrab). Segundo estaFederação, o número de fiéis deve ser bem superior ao coletado, já que uma parcela significativa da população que freqüenta os terreiros prefere, ainda, declarar-se católica, tendo em vista as discriminações.

No candomblé, a Filha-de-Santo representa um verdadeiro sacerdote, servindo de instrumento, de corpo, de cavalo, ou de médium, para o Orixá que nela se incorpora, em certas ocasiões do culto. Nesses momentos, ela possui os mesmos gestos, timbre de voz, danças e cantigas que o Santo. Essas escolhas, em geral, têm lugar dentro dos próprios cultos e, durante a revelação dos Orixás, a futura Filha-de-Santo é tomada por tremores e sobressaltos.

Para assumir tal papel, no entanto, ela necessita fazer um curso no terreiro, visando aprender o ritual, o cerimonial, o preparo de iguarias especiais, os cantos, as danças e a confecção da indumentária do seu Santo. A iniciação da Filha-de-Santo é bastante lenta, dela se exigindo extrema dedicação. Neste sentido, enquanto vida tiver, ela pertencerá ao seu Orixá, trabalhará para ele e, com a renda proveniente de seu trabalho, auxiliará a manter o candomblé onde foi feita.

Existem diversas gradações no tocante às Filhas-de-Santos (Cascudo, 1998). A Abiã, por exemplo, cumpre apenas certos ritos parciais. A iniciante oficial - que possui pouco tempo de iniciação e só passou por algumas cerimônias - é chamada de Yauô. A serva da Filha-de-Santo é chamada Ékédi. Como não tem poderes para incorporar os Santos, ela é empregada em algumas funções subalternas, dedicando-se a cuidar das vestimentas e dos adornos da Filha-de-Santo.

Há, inclusive, toda uma hierarquia, que vai de sete em sete anos, na qual a Yauô passa a ser Vodum - estágio onde a Filha-de-Santo passa a usar um colar especial, confeccionado com pedacinhos de coral e contas vermelhas, chamado rungéfe. E a Ébomin - a Filha-de-Santo que possui uma iniciação completa, ou seja, mais de sete anos de feita - pode funcionar na plenitude do conhecimento ritualista, porque já está capacitada para fazê-lo.        

Em se tratando da chefia dos rituais, o Pai-de-Santo (Babalorixá) e a Mãe-de-Santo (Alourixá ou Ialorixá) recebem os fiéis nos terreiros, em sessões individuais, revelando o Orixá de cada um, por tradição, mediante o jogo de búzios. A identificação do Orixá, ou do Santo, ajudará o fiel a compreender a sua própria personalidade, bem como equilibrar as suas energias (axés) com aquelas do seu Orixá.

         Como um Orixá escolhe o seu instrumento, a sua médium?

Geralmente, isso é feito de duas maneiras. Em primeiro lugar, o Orixá pode agir de forma direta, atuando para que a Filha-de-Santo entre em um determinado estado de possessão, no qual passa a chorar, a gritar, a subir em árvores e a falar uma língua estrangeira. Ou, em segundo lugar, de forma indireta, fazendo com que ela encontre determinadas pedras, conchas ou pedaços de ferro. Nesta fase, é preciso entregar tais objetos à sua Mãe ou Pai-de-Santo e, eles, de imediato, identificarão o seu Orixá.

Depois que a futura Filha-de-Santo entrega os objetos encontrados, é necessário que junte dinheiro para custear a sua cerimônia de iniciação, que ocorrerá em um local reservado, ao ar livre. De acordo com o ritual, ela começará tomando um banho com folhas aromáticas e, em seguida, trocando de roupa. Quando retornar ao terreiro, terá que se recolher em um determinado cômodo, e ficará aguardando o preparo do fetiche a quem vai servir (o sacrifício de certos animais).

A seguir, terá sua cabeça raspada, lavada com uma infusão de plantas e esfregada com bastante força. Ao ingerir, também, essas infusões, a Filha-de-Santo vivenciará o fenômeno da entrada do Santo, que muitos pesquisadores acreditam se tratar de um estado psicopatológico especial. Após essa etapa, é a vez de uma cerimônia denominada Efun, na qual a cabeça e as faces da iniciante são pintadas com determinados traços de cor, e com as disposições características da origem étnica, em alusão às cicatrizes utilizadas, no passado, por muitas tribos e nações importantes. Vale ressaltar que essas cicatrizes, hoje, são substituídas por marcas feitas com tintas.

Depois desse processo, a Filha-de-Santo deverá permanecer em casa durante um ano, aproximadamente, ficando proibida de sair, de ter relações sexuais e de ingerir determinados alimentos. Em seguida, ocorrerá uma nova cerimônia chamada Dia de dar o nome, na qual será derramado, sobre a cabeça da iniciada, o sangue dos animais sacrificados. Após essa etapa, enfim, a Filha-de-Santo é considerada feita.

Um dado importante merece ser registrado: quanto menor for o tempo de iniciação, mais impuro e deturpado será o significado religioso do candomblé. Tudo se passa como se ele perdesse aquilo que possui de mais sagrado, a sua pureza religiosa. É importante salientar, também, que, nos terreiros, as celebrações, as invocações e os cânticos são feitos em dialetos africanos, ao som de atabaques, variando segundo o Orixá homenageado.  

Inserida nesse processo ritualista, a Filha-de-Santo - ou a sacerdotisa dos Orixás - representa uma religiosa a serviço dos Deuses da natureza: aqueles mesmos Deuses que chegaram ao país em navios negreiros, incrustados nos grilhões dos escravos, juntamente com as suas comidas, indumentárias, línguas, músicas, danças, festas, crenças e rituais

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CARGOS DO TERREIRO DE CANDOMBLÉ


 
Iyalorixá/Babalorixá: Mãe ou Pai de Santo, é o posto mais elevado do ILê; tem a função de iniciar e completar o ato de iniciação dos olorixás.
Iyaegbé/Babaegbé: É a segunda pessoa do axé. Conselheira, responsável pela manutenção da Ordem, Tradição e Hierarquia. Posto paralelo ao da Iyalorixá ou Babalorixá. 
Iyalaxé: Mãe do axé, a que distribui o axé. É quem escolhe os Oloyes de acordo com as determinações superiores. 
Iyakekere: Mãe pequena do axé ou da comunidade. Sempre pronta a ajudar e ensinar a todos no Ilê.
Babakekere: Pai pequeno do axé ou da comunidade. Sempre pronto a ajudar e ensinar a todos no Ilê.
Ogan:  É responsabilidade do ogã, olhar pelos demais médiuns, cuidar dos Orixas, bem como pela integridade e pelo bom funcionamento do terreiro.
Ekede: É responsabilidade da Ekede, olhar pelos demais médiuns, cuidar dos Orixas, cuidar do Babalorixá ou da Iyalorixá bem como pela integridade e pelo bom funcionamento do terreiro.   
Ojubonã: É a mãe criadeira.
Iyamoro: Responsável pelo Ipadê de Exú. Junto com a Agimuda, Agba e Igèna. - Iyaefun/Babaefun: Responsável pela pintura dos Iyawos.
Iyadagan: Auxilia a Iyamoro e vice-versa. Também possui sub-postos OtunDagan e Osi-dagan.
Iyabassé: Responsável no preparo dos alimentos sagrados. Todos Olorixás podem auxilia-la, sendo ela a única responsável por qualquer falha eventual.
Iyarubá: Carrega a esteira para o iniciando. E usa toalha de Orixá no ombro.  Aiyaba Ewe: Responsável em determinados atos em obrigações de "cantar folhas". Geralmente filhas de Oxun.
Aiybá: Bate o ejé em grandes obrigações. Tem sub-posto Otun e Osi.
Ològun: Cargo masculino, despacha aos Ebós das grandes obrigações, a preferência é para os filhos de Ogun, depois Odé e Oluwaiyê.
Oloya: Cargo feminino, despacha os Ebós das grandes obrigações, na falta de Ològun. São filhas de Oya.
Mayê: Mexe com as coisas mais secretas do Axé, ligadas a iniciação do Adoxú.
Agbeni Oyê: Posto paralelo a Mayê, divide a mesma causa.
Oyê: Se relaciona com a Yaefun/Babaefun; ou seja, coisas de AWO para iniciação.
Olopondá: Grande responsabilidade na inicição, no âmbito altamente secreto.
Iyalabaké: Responsável pela alimentação do iniciado, enquanto o mesmo se encontrar de obrigação.
Kólàbá: Responsável pelo Làbá, simbolo de Xângo. 
Agimuda: Relação com o Ipadê de Exú. Aquela que carrega a espada. Titulo feminino usado no culto de Oya e Geledé.
Iyatojuomó: Responsável pelas crianças do Axé. 
Iyasíhà Aiyabá: é quem segura o estandarte de Oxalá.
Omolàra: Posto de confiança.
Sarapegbé: Mensageiro de coisas civis e de awo.
Akòwé Ilê Xangô: É a Secretária da casa de Xângo. Zelo, Orô e compras.
Babalossayn: Responsável pela colheita das folhas. Cargo de extrema importância. –
Axogun: Responsável pelos sacrifícios. Traz axé de Ogun. Trabalha em conjunto com Iyalorixá/Babalorixá, Oloyês e Ogans. Não pode errar. Responsável direto pelos sacrifícios do ínicio ao fim do ato. Soberano nestas obrigações, é quem se comunica com o Orixá para quem se destina a obrigação, transmitindo à Iyalaxé as respostas e mandamentos. Deve ser chamado de Pai. E também possui sub-post Otun e Osi.
OgaláTebessê: Dono dos toques, cânticos e danças. Trabalha em conjunto com o Alagbê, possui sub-posto Otun e Osi. 
Alagbê: Responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos Ilùs, os instrumentos musicais sagrados. Nos ciclos de festas é obrigado a se levantar de madrugada para que faça a ALVORADA mais ou menos 40 min. Se um autoridade de outro Axé chegar ao Ilê, o Alagbê, tem de lhe prestar as devidas homenagens "dobrar o Ilù" oferecer até sua própria cadeira. Também possui sub-posto Otun e Osi.
Alagbá: Ambito civil do Axé. 
Àjòiè: Camareira do Orixá. Ekédi.
Ojuoba: Posto de honra no Ilê Xangô e possui sub-posto Otun e Osi.
Teololá: Aquela que acompanha os Obas de Xangô.
Sobalóju: Título masculino e feminino. Sendo o mais importante e atraente, o preferido do rei.
Mawo: Grande confiança.
Balógun: Título ligado ao Ilê Ogun.
Alagada: Ogan que cuida das ferramentas de Ogun.
Balóde: Ogan de Odé. 
Aficodé: Chefe do Aramefá (6 corpos) ligado ao Ilê Odé
Ypery: Ogan ou Àjòiè de Odé
Alajopa: Pessoa de Odé, que leva a caça para ele.
Alugbin: Ogan de Oxalufan e Oxaguian que toca o Ilù dedicado a Oxalá.
Assogbá: Ogan ligado ao Ilê Omolú e cultos de Obaluaiye, Nanã, Egun e Exú.
Alabawy: Pessoa que trabalha na área jurídica e que cuida dos interesses civis do Axé.
Leyn: Pessoa do Ogun ou Odé, que zela Ogun.
Alagbede: Pessoa que trabalha no ramo de ferro e metais e forja as ferramentas do Axé.
Elémòsó: Ogan ou Àjòiè de Oxaguian, ligados ao Ilê Oxalá.
Gymu: Àjòiè de Omolu, que cuida de tudo que se relaciona a Omolu, Nanã e Ossany.
Kaweó: Ligado ao Ilê Ossaiyn. 
Ogòtún: Ligado ao Ilê Oxun.
Oba Odofin: Ligado ao Ilê Oxalá.
Iwin Dunse: Ligado ao Ilê Oxalá.
Apokan: Ligado ao Ilê Omolú.
Abogun: Ogan que cultua Ogun
CABOCLOS DO MEU BRASIL



Candomblé de Caboclo é todo candomblé que além do culto aos Orixás, Voduns ou Nkisis, cultua também espíritos ameríndios chamados de entidades, catiços ou caboclos boiadeiros, gentileiros. Inicialmente na Bahia os Candomblés não tradicionais, eram na maioria caboclos, que é um misto de Keto, Jeje e Angola.
O caboclo exerce um papel fundamental no relacionamento da comunidade afro brasileira, pois fala o idioma português, "mesmo com erros grotescos", papel que os orixás só fazem no idioma africano, chamado Yoruba, assim conquistando a popularidade dos crentes, que não entendem ou fala a língua dos Orixás. São encarregados de trazer mensagens dos seus ancestrais, principalmente de entes queridos desencarnados há pouco tempo, aconselha os desesperados, indicando sempre um novo caminho, indica banhos de folhas sagrada e/ou pequenas oferendas para resoluções dos seus problemas. Nos candomblés de caboclo também se realizam os sacudimentos com folhas sagradas e passes espirituais que tem a função de limpar o individuo de radiações negativas. As cantigas podem ser cantadas acompanhadas pelas palmas ou pelos atabaques.
As oferendas de caboclo são fartas e variadas, constituída de uma grande variedade de frutas, legumes, raízes e até mesmo doces. Um elemento indispensável é a abóbora girimum, que são recheadas com fumo de rolo, milho branco e mel de abelha, oferenda de galos, peru, pavão ou qualquer tipo de passaro.  A jurema é a bebida sagrada, considerada o néctar dos deuses e disputada não só pelas entidades, mas por todos os presentes.
Os caboclos não trabalham somente nos terreiros como alguns pensam.Eles prestam serviços também ao Kardecismo, nas chamadas sessões de "mesa branca". No panorama espiritual rente à Terra predominam espíritos ociosos, atrasados, desordeiros, semelhantes aos nossos marginais encarnados. Estes ainda respeitam a força. Os índios, que são fortíssimos, mas de almas simples, generosas e serviçais, são utilizados pelos espíritos de luz para resguardarem a sua tarefa da agressão e da bagunça. São também utilizados pelos guias, nos casos de desobsessão pois, pegam o obsessor contumaz, impertinente e teimoso, "amarrando-o" em sua tremenda força magnética e levando-o para outra região.

Alguns exemplos de Caboclos e Caboclas:
  • Caboclo Sultão das Matas, Caboclo Eirú ou Erú, Caboclo Gentileiro, Caboclo Laje Grande, Caboclo Pedra Preta do saudoso Joãozinho da Goméia, Caboclo Boiadeiro que são espirítos de vaqueiros do interior do Brasil, Caboclo Oxossi, Caboclo Jaguatiraba, Caboclo Sete Serra, Caboclo Araribóia, Cabocla Jurema, Cabloca Iara e Cabloca Jussara.
Existem uma infinidade de Caboclos e Caboclas no Candomblé de Caboclo.

A saudação aos Caboclos é:  Xetrú Marrombá xetrú, Xetruá
 
 
CABOCLO BOIADEIRO
 
 
 
OFERENDA
 
A LENDA DOS EGUNS


De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a Morte) vinha à cidade de Ilê-Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem mesmo os Orixás podiam com Iku.
Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal, confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez sacrifícios apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares vestiram as tais roupas e se esconderam no mercado.
Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com vozes inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte deixou de atacar os habitantes de Ifé.
Os babalawos (adivinhos e sacerdotes de Orunmilá) disseram a Ameiyegun que ele e seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as suas gerações, lembrando como eles venceram a Morte.
Egun é a terminação do nome de Ameiyegun, e é como hoje são conhecidos os ancestrais do seu clã (Egun ou Egungun). É a vitória da vida pós-morte: como no mito em que a vida venceu a morte, da mesma forma os Eguns se apresentam, hoje, cobertos de panos e portando um cajado.
 
 
 
ORIGEM DOS OIÊ MASCULINOS
 
Havia na cidade do Oyó um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado ‘ihobia’, pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.
Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado, correu ao babalawô, que jogou Ifá para ele. O sacerdote disse que ele se acalmasse, e que após o l7º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um bastão (assim é feito o ixan). Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de antes fazer certos sacrifícios e oferendas.
Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.
Deste dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai (ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam feitas as oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.
Seguindo o pacto e as instruções do babalawo, de que sempre que os filhos morressem fosse realizado o ritual após o l7º dia, pais e filhos para sempre se encontraram. E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas que elas as farão com imenso prazer
 
 
AS LIGAÇÕES DE OYÁ E EGUN
 
Oyá não podia ter filhos, e foi consultar o babalawo. Este lhe disse, então, que, se fizesse sacrifícios, ela os teria. Um dos motivos de não os ter ainda era porque ela não respeitava o seu tabu alimentar (eewó) que proibia comer carne de carneiro. O sacrifício seria de 18.000 mil búzios (o pagamento), muitos panos coloridos e carne de carneiro. Com a carne ele preparou um remédio para que ela o comesse; e nunca mais ela deveria comer desta carne. quanto aos panos, deveriam ser entregues como oferenda.
Ela assim fez e, tempos depois, deu à luz nove filhos (número mítico de Oyá). Daí em diante ela também passou a ser conhecida pelo nome de ‘Iyá omo mésan’, que quer dizer ‘a mãe de nove filhos’ e que se aglutina Iyansan.
Há outra lenda para explicar o mito de Iyansã : "Em certa época, as mulheres eram relegadas a um segundo plano em suas relações com os homens. Então elas resolveram punir seus maridos, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os em demasia.
Oyá era a líder das mulheres, e elas se reuniram na floresta. Oyá havia domado e treinado um macaco marrom chamado ijimeré (na Nigéria). Utilizara para isso um galho de atori (ixan) e o vestia com uma roupa feita com várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos.
Seguindo um ritual, conforme Oyá brandia o ixan no solo o macaco pulava de uma árvore e aparecia de forma alucinante, movimentando-se como fora treinado a fazer. Deste modo, durante a noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres (que estavam escondidas) faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados.
Cansados de tanta humilhação, os homens foram ver o babalawo para tentar descobrir o que estava acontecendo. Através do jogo de Ifá, e para punir as mulheres, o babalawo lhes conta a verdade. Ele os ensina como vencer as mulheres através de sacrifícios e astúcia.
Ogun foi o encarregado da missão. Ele chegou ao local das aparições antes das mulheres. Vestiu-se com vários panos, ficando totalmente encoberto, e se escondeu. quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares. Todas fugiram apavoradas, inclusive Oyá."
Desde então os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto de Egun; hoje, eles são os únicos a invocá-lo e cultuá-lo. Mas, mesmo assim, eles rendem homenagem a Oyá, na qualidade de Igbalé, como criadora do culto de Egun.
Convém notar que, no culto, Egun nasce no bosque da floresta (igbo igbalé). No Brasil, no ilê awo, ele nasce no quarto de balé, onde são colocadas oferendas de comidas e realizadas cerimônias aos Eguns.Oyá é também cultuada como mãe e rainha de Egun, como Oyá Igbalé
E, como nos explica a lenda, Oyá, a floresta e o macaco estão intimamente ligados ao CULTO, inclusive em relação à voz de macaco como é o modo do Egun se comunicar com as pessoas.
Os mortos do sexo feminino são chamados de Ìyámi Agba (minha mãe anciã) e cultuado como uma energia ancestral coletiva, representada por Ìyámi Oxorongá.
 
ORAÇÃO AOS ORIXÁS


Que a irreverência e o desprendimento de Exú nos animem a não encarar as coisas de forma como elas parecem á primeira vista e sim que nós aprendemos que tudo na vida, por pior que seja, terá sempre o seu lado bom e proveitoso!LARO YÊ EXU!!
Que a tenecidade de Ogum nos inspire a viver com determinação, sem que nos intimide com pedras, espinhos e trevas. Sua espada e sua lança, desobstruam nosso caminho e seu escudo nos defenda! OGUM YÊmeu Pai!
Que ao labor de Oxossi nos estimule a conquistar sucesso e fartura á custa de nosso próprio esforço. Que suas flechas caiam á nossa frente, á nossas costas, á nossa direita e á nossa esquerda, cercando-nos para que nenhum mal nos atinja. OKÊ ARÔ ODE!!
Que as folhas de Ossanhe forneçam o bálsamo revitalizante que restaure nossas energias, mantendo nossa mente sã e corpo são. EWE OSSANHE!
Que Oxum nos dê a serenidade para agir de forma consciente e equilibrada. Tal como suas águas doces -que seguem desbravadoras no curso de um rio, entercortando pedras e se precipitando numa cachoeira, sem parar nem ter como voltar atrás, apenas seguindo para encontrar o mar-assim seja que nós possamos lutar por um objetivo sem arrependimentos. ORA YEYÊO OXUM!!!
Que o arco íris de Oxumaré tranporte para o infinito nossas orações, sonhos e anseios, e que nos traga as respostas divinas, de acordo com nossos merecimentos. ARROBOBO OXUMARÉ!!
Que os raios de Iansã alumiem nosso caminho e o turbilhão de seus ventos leve para longe de nós aqueles que se aproximam com o intuito de se aproveitarem de nossas fraquezas. EPA HEY OYÁ!
Que as pedreiras de Xangô sejam a consolidação da lei divina em nosso coração. Seu machado pese sobre nossas cabeças agindo na consciência, e sua balança nos incuta o bom senso. CAÔ CABELECILE!
Que as ondas de Iemanjá nos descarreguem, levando para as profundezas do mar sagrado as aflições do dia-a-dia, dando-nos a oportunidade de sepultar definitivamente aquilo que nos causa dor, e que seu seio materno nos acolha e nos console. ODOYÁ,IEMANJÁ!
Que as cabaças de Obaluaiê tragam não só a cura de nossas mazelas corporais, como também ajudem nosso espírito a se despojar das vicissitudes. ATOTÔ OBALUAIÊ!
Que a sabedoria de Nanã nos dê uma outra perspectiva de vida, mostrando que, cada nova existência que temos, seja aqui na terra ou em outros mundos, gera a bagagem que nos dá meios para atingir a evolução, e não uma forma de punição sem fim como julgam os incensatos. SALUBA NANÃ!
Que a vitalidade dos Ibejis nos estimule a enfrentar os dissabores como aprendizado; que nós não percamos a pureza mesmo que, ao nosso redor, a tentação nos envolva. Que a inocência não signifique fraqueza, mas sim, refinamento moral! ONI DI BEIJADA!!
Que a paz de Oxalá renove nossas esperanças de que, depois de erros e acertos; tristezas e alegrias; derrotas e vitórias; chegaremos ao nosso objetivo mais nobre, aos pés de Zambi Maior! EPA BABÁ Grande Pai Oxalá!


O candomblé e a homossexualidade




O candomblé e a homossexualidade





Os orixás são deuses que personificam aspectos da natureza, se relacionam com determinadas atividades humanas e comportam arquétipos que informam seus feitios, domínios, atributos, traços de comportamento e personalidade. Esses conteúdos simbólicos apreendidos por intermédio da experiência religiosa são empregados pelos fiéis para classificar,  reconhecer ou integrar as pessoas de “dentro” e de “fora” na estrutura dos cultos.
Acredita-se que um indivíduo poderá se valer de seu orixá feminino ou ambivalente para
assumir sua homossexualidade. Ainda que as características míticas de um determinado orixá
possam auxiliar na identificação do orixá ao qual pertence uma determinada pessoa, isto não pode
ser tomado como infalível e inquestionável, pois as versões e interpretações míticas são inesgotáveis.
Não se pode dizer que determinando individuo do sexo masculino é homosexual porque é de um Orixá iabá(orixa feminino) ou um individuo do sexo feminino porque é de um Orixá aborô(orixá masculino),  o Orixá escolhe seu filho para representa-lo aqui no àiyé(terra) independente da condição sexual do seu filho, se hoje existe um grande número de filhos de santos hoje do sexo masculino que manifesta-se com o orixá feminino, é porque o Orixá o escolheu, ninguem dar o santo que quer dar, ninguem escolhe o seu Orixa é o contrário o Orixa é que escolhe quem irá representa-lo indiferente se o filho de santo é gay ou lésbica.
Assim como os mitos e arquétipos que informam as características gerais dos orixás, a possessão tem um papel fundamental nas crenças afro-brasileiras. Trata-se de um fenômeno ritual que permite aproximar o aiê (terra) e o orun (morada dos orixás). Diante do olhar atento de um público interessado, o iniciado se deixa conduzir por uma força arrebatadora e incontrolável. Anestesiado pelo efeito da possessão, ele é transportado para fora da realidade objetiva e cede o seu corpo para que o orixá possa manifestar sua porção divina. O orixá “desce” para desempenhar um conjunto de gestos e passos ritmados ao som dos atabaques rum, rumpi e lé. Orquestra sagrada que possibilita a comunicação com os deuses, permitindo-os se revelarem em coreografias que evocam suas passagens míticas.
Além de possibilitar a aproximação entre dois mundos distintos e distantes (mundo visível e
mundo invisível), a possessão é um eficaz operador de alteridade. Um homem, independente de sua
orientação sexual, pode ser consagrado às deusas Iansã, Iemanjá ou Oxum e rodar-no-santo
paramentado com roupas e acessórios tipicamente femininos. Os corpos se transformam portanto.
Daí o temor entre os homens heterossexuais quando se descobrem filhos de orixás femininos. Embora ninguém confirme a possibilidade de uma identificação plena ou absoluta entre pessoa e orixá, muitos receiam que as divindades femininas possam interferir na sexualidade de seus filhos “homens”.
Convém sublinhar que no transcorrer da possessão prevalece a natureza sagrada e não biológica da relação contraída entre o fiel e o seu orixá. Um homem iniciado não é um ser sexuado durante a possessão. Assim, afirma um pai-de-santo, o “gênero de uma pessoa não se altera nem antes, nem durante e nem depois do transe por que naquele momento ela não está ali, mas o orixá”.
De acordo com esta argumentação, o indivíduo não perde sua masculinidade porque, naquele
momento, não é ele quem está presente, mas o orixá para o qual foi consagrado. Indiferentes aos supostos efeitos causados pela possessão ritual, mulheres e homossexuais estão entre os que mais se adaptam à vida religiosa afro-brasileira. Para mencionar apenas um exemplo, o candomblé não só atrai, mas propicia a filiação de homossexuais interessados na religião dos orixás. Lá encontram um território de sociabilidade onde é possível “fazer estilo criando gêneros”, bem como o acesso a uma experiência religiosa não encontrada em outras religiões. Daí a corrida gay em direção aos terreiros localizados nas grandes cidades.
Dados recentes de pesquisas confirmam a presença de homossexuais presentes em todas as religiões. Mas, a escolha mais corriqueira pelas afro-brasileiras se deve ao preconceito, discriminação ou rejeição encontrada em outras denominações hostis às orientações não-heterossexuais. Ainda que estejam entre as que menos discriminam o indivíduo por razões de preferência sexual, convém chamar atenção para as
interpretações que apontam as comunidades-terreiro como o “paraíso” das minorias sexuais.
“O candomblé é feito de seres humanos”, lembra um pai-de-santo. “Nós temos cinco dedos numa mesma mão e cada um deles é diferente do outro. Quem dirá o ser humano! Nossa religião não pode exterminar todos os preconceitos lá de fora”.
Preconceito e discriminação se encontram disseminados, explícita ou dissimuladamente, em todos os lugares e religiões. Contudo, se comparado com outras crenças, o candomblé tem se mostrado mais aberto aos homossexuais, permitindo-lhes ocupar todos os postos previstos na hierarquia ritual. Embora estejam entre os que menos discriminam o indivíduo por razões de preferência sexual, os candomblecistas reproduzem certos discursos e argumentos articulados à moralidade cristã e que dão sustentação à hierarquia de sexo/gênero. Conforme o depoimento de outro sacerdote, a base do candomblé nagô-queto praticado no Brasil só prevê o “masculino” e o “feminino”.
Essa compreensão acerca da noção de sexualidade também fundamenta outras religiões, sendo que os valores judaico-cristãos tendem a prevalecer nas denominações afro-brasileiras. Daí a resistência a encarar a sexualidade como fonte de prazer, necessitando justificá-la por meio da procriação. Mesmo nos dia de hoje, tratar de homossexualidade nas casas de candomblé ainda é um tema delicado, restrito e rodeado de tabus.
Tradição, contradição e tabu compõem o diversificado mundo religioso afro-brasileiro. Essa é a realidade cultural vivida pelo povo do santo do nosso Brasil

AXEXÊ




Nas mais diferentes culturas, a concepção religiosa da morte está contida na própria concepção da vida e ambas não se separam. Os iorubás e outros grupos africanos que formaram a base cultural das religiões afro-brasileiras acreditam que a vida e a morte alternam-se em ciclos, de tal modo que o morto volta ao mundo dos vivos, reencarnando-se num novo membro da própria família. São muitos os nomes iorubás que exprimem exatamente esse retorno, como Babatundê, que quer dizer O-pai-está-de-volta.
Axexê cerimônia realizada após o falecimento de alguém iniciado no candomblé. Quando um iniciado no candomblé morre, junta-se todos seus pertences pessoais utilizados em sacrifícios e obrigações, como roupas, colares e os assentamentos de santo e se faz uma consulta oracular para se saber do destino dos objetos separados, se ficam com alguém. Em caso positivo, o objeto ou objetos em questão é lavado com ervas sagradas e entregue ao herdeiro ou herdeiros revelado(s) no oráculo, e em caso negativo, o objeto é separado para junto com os demais e, após serem os colares rompidos, as roupas rasgadas e os assentamentos quebrados, são colocados em uma trouxa que será entregue em um local também indicado pelo oráculo. Normalmente, a trouxa, chamada de Carrego de Egum , é acompanhada de um animal sacrificado, indo de uma única ave à um quadrúpede acompanhado de várias aves, dependendo do grau hierárquico do morto no terreiro. E ainda, se o falecido era um iniciado de pouco tempo, basta um lençol branco para embalar o carrego, se for uma pessoa mais graduada, o carrego é colocado em um grande balaio, o qual é depois embalado no lençol. O processo de preparação e entrega, ou despacho do Carrego de Egum é a cerimônia fúnebre mínima que se dedica a qualquer iniciado no candomblé quando morre. As variações surgem, como foi já colocado, dependendo do grau hierárquico ao qual pertencia o morto  e também da Nação em que fora iniciado. O Axexê nesses casos antecede ao Carrego de Egum e consiste em uma, três ou seis noites de cânticos e danças na qual se celebra a partida do iniciado para o outro mundo , rememorando o nome de outros iniciados já falecidos e, enfim, os eguns em geral. Canta-se também a certa altura para os orixás, menos para Xangô e Oxalá para os quais se canta no depois da entrega do carrego no ritual do arremate . Todos os participantes devem vestir branco, a cor do nascimento e da morte no candomblé, e devem estar com a cabeça e os ombros cobertos. Obedecem-se vários preceitos rígidos de comportamento dentro  do terreiro durante todo o processo em respeito ao espirito. Depois do carrego despachado, canta-se o arremate no dia seguinte à tarde, antes do pôr-do-sol, as mesmas cantigas do Axexê são ainda entoadas e no final são louvados os orixás , e empreende-se uma limpeza ritual do terreiro, com a participação eventual dos orixás que porventura tenha se manifestado em seus médiuns. Ao longo do Axexê mesmo somente orixás mais ligados à morte como Oyá - Iansã , Obaluaiyê , Ogum , etc. costumam se manifestar. No caso em que o morto era um pai ou mãe de santo cujo terreiro permaneceu ainda aberto, costuma-se repetir o ritual um, três, seis meses, e um, três, sete anos depois do Axexê inicial. O Axexê também é conhecido pelos nomes de sirrum e zerim , nomes em Língua Fon significando os instrumentos que são percutidos em substituição aos atabaques.

O sirrum é uma metade de cabaça emborcada em um alguidar onde se encontra uma mescla de substâncias líquidas e o zerim é um pote com certas substâncias dentro que é percutido com um leque de palha dobrado em dois. Quando se trata de uma pessoa especialmene antiga e poderosa na religião, o Axexê é tocado com atabaques mesmo, com os couros ligeiramente afrouxados para serem depois também despachados no carrego. Em alguns terreiros da Nação Ketu também se usa tocar Axexê com três cabaças: duas inteiras e uma com a ponta cortada.
 Para os iorubás, existe um mundo em que vivem os homens em contato com a natureza, o nosso mundo dos vivos, que eles chamam de aiê, e um mundo sobrenatural, onde estão os orixás, outras divindades e espíritos, e para onde vão os que morrem, mundo que eles chamam de orum. Quando alguém morre no aiê, seu espírito, ou uma parte dele, vai para o orum, de onde pode retornar ao aiê nascendo de novo. Todos os homens, mulheres e crianças vão para um mesmo lugar, não existindo a idéia de punição ou prêmio após a morte e, por conseguinte, inexistindo as noções de céu, inferno e purgatório nos moldes da tradição ocidental-cristã. Não há julgamento após a morte e os espíritos retornam à vida no aiê tão logo possam, pois o ideal é o mundo dos vivos, o bom é viver. Os espíritos dos mortos ilustres (reis, heróis, grandes sacerdotes, fundadores de cidades e de linhagens) são cultuados e se manifestam nos festivais de egungum no corpo de sacerdotes mascarados, quando então transitam entre os humanos, julgando suas faltas e resolvendo as contendas e pendências de interesse da comunidade.
A tradição cristã ensina que o ser humano é composto de corpo material e espírito indivisível, a alma. Na concepção iorubá, existe também a idéia do corpo material, que eles chamam de ara, o qual com a morte decompõe-se e é reintegrado à natureza, mas, em contrapartida, a parte espiritual é formada de várias unidades reunidas, cada uma com existência própria. As unidades principais da parte espiritual são:
 1) o sopro vital ou emi, 2) a personalidade-destino ou ori, 3) identidade sobrenatural ou identidade de origem que liga a pessoa à natureza, ou seja, o orixá pessoal e 4) o espírito propriamente dito ou egum. Cada parte destas precisa ser integrada no todo que forma a pessoa durante a vida, tendo cada uma delas um destino diferente após a morte. O emi, sopro vital que vem de Olorum e que está representado pela respiração, abandona na hora da morte o corpo material, fabricado por Oxalá, sendo reincorporado à massa coletiva que contém o princípio genérico e inesgotável da vida, força vital cósmica do deus-primordial Olodumare-Olorum. O emi nunca se perde e é constantemente reutilizado. O ori, que nós chamamos de cabeça e que contém a individualidade e o destino, desaparece com a morte, pois é único e pessoal, de modo que ninguém herda o destino de outro. Cada vida será diferente, mesmo com a reencarnação. O orixá individual, que define a origem mítica de cada pessoa, suas potencialidades e tabus, origem que não é a mesma para todos, como ocorre na tradição judaico-cristã (segundo a qual todos vêm de um único e mesmo deus-pai), retorna com a morte ao orixá geral, do qual é uma parte infinitésima. Finalmente, o egum, que é a própria memória do vivo em sua passagem pelo aiê, que representa a plena identidade e a ligação social, biográfica e concreta com a comunidade, vai para o orum, podendo daí retornar, renascendo no seio da própria família biológica. Quando se trata de alguém ilustre, os vivos podem cultuar sua memória, que pode ser invocada através de um altar ou assentamento preparado para o egum, o espírito do morto, como se faz com os orixás e outras entidades espirituais. Sacrifícios votivos são oferecidos ao egum que integra a linhagem dos ancestrais da família ou da comunidade mais ampla. Representam as raízes daquele grupo e são a base da identidade coletiva.
No Brasil, nas comunidades de candomblé e demais denominações religiosas afro-brasileiras que seguem mais de perto a tradição herdada da África, a morte de um iniciado implica a realização de ritos funerários. O rito fúnebre é denominado axexê na nação queto, tambor de choro nas nações mina-jeje e mina-nagô, sirrum na nação jeje-mahim e no batuque, ntambi ou mukundu na nação angola, tendo como principais fins os seguintes: 1) desfazer o assentamento do ori, que é fixado e cultuado na cerimônia do bori, cerimônia que precede o culto do próprio orixá pessoal; 2) desfazer os vínculos com o orixá pessoal para o qual aquele homem ou mulher foi iniciado, o que significa também desfazer os vínculos com toda a comunidade do terreiro, incluindo os ascendentes (mãe e pai-de-santo), os descendentes (filhos-de-santo) e parentes-de-santo colaterais; e 3) despachar o egum do morto, para que ele deixe o aiê e vá para o orum. Como cada iniciado passa por ritos e etapas iniciáticas ao longo de toda a vida, os ritos funerários serão tão mais complexos quanto mais tempo de iniciação o morto tiver, ou seja, quanto mais vínculos com o aiê tiverem que ser cortado (Santos, 1976). Mesmo o vínculo com o orixá, divindade que faz parte do orum, representa uma ligação com o aiê, pois o assentamento do orixá é material e existe no aiê, como representação de sua existência no orum, ou mundo paralelo. Mesmo um abiã, o postulante que está começando sua vida no terreiro e que já fez o seu bori, tem laços a cortar, pois seu assento de ori precisa ser despachado, evidentemente numa cerimônia mais simples.
Em resumo, podemos dizer que a seqüência iniciática por que passa um membro do candomblé, xangô, batuque ou tambor de mina (bori, feitura de orixá, obrigações de um, três e cinco anos, decá no sétimo ano, obrigações subseqüentes a cada sete anos) representa aprofundamento e ampliação de laços religiosos, quando novas responsabilidades e prerrogativas vão se acumulando: com a mãe ou pai-de-santo, com a comunidade do terreiro, com filhos-de-santo, com o conjunto mais amplo do povo-de-santo etc. Com a morte, tais vínculos devem ser desfeitos, liberando o espírito, o egum, das obrigações para com o mundo do aiê, inclusive a religião. O rito funerário é, pois, o desfazer de laços e compromissos e a liberação das partes espirituais que constituem a pessoa. Não é de se admirar que, simbolizando a própria ruptura que tal cerimônia representa, os objetos sagrados do morto são desfeitos, desagregados, quebrados, partidos e despachados.